Além de ser chamado de “macaco” dentro do avião, o músico Dudu Nobre diz que sofreu agressão física e o caso foi parar na polícia. A acusação discriminação racial pelos próprios comissários de um vôo dos Estados Unidos para o Brasil, nesta última segunda-feira, merece reflexão onde o preconceito racial é sutil e disfarçado, e por vezes grosseiro como neste episódio. Hoje é o Dia da Consciência Negra em nosso país, inspirado na morte do negro Zumbi em 20 de novembro de 1695. O tema tem importância na Bíblia, que descreve a discriminação como um pecado que bate em cheio contra o amor universal de Deus. O apóstolo Paulo lembra que não existe diferença entre as raças, porque Deus é o mesmo Senhor de todos e abençoa indistintamente os que lhe pedem ajuda (Romanos 10.12). No entanto, a própria Bíblia é usada erroneamente para se afirmar que a cor negra da pele é um castigo divino. Dizem que Cão, filho de Noé, ficou negro ao ser amaldiçoado (Gênesis 9.22). Ora, fico imaginando se um dia este tipo de religioso encontrar-se com um Jesus preto no Juízo Final. Se “maldição” é compreendida desta forma, então o que dizer da minha pele branquela, pré-disposta ao câncer e ao envelhecimento precoce sob os efeitos do sol? Em todo o caso, estas heresias andam soltas por aí, a exemplo de Satanás que inverteu o sentido das palavras de Deus na tentação contra Jesus (Mateus 4.1-11). Racismo é um escândalo (escândalo vem do grego e significa “separação”) que diabolicamente (diabo significa “aquele que separa”) traz divisão na própria igreja cristã. Um péssimo exemplo vem dos Estados Unidos onde existem igrejas de brancos e igrejas de negros. E agora o grande desafio para este país da Ku klux klan – organização que tem a própria cruz como símbolo para defender a “supremacia da raça branca” – será proteger Barak Obama contra racistas fundamentalistas, os mesmos que mataram Martin Luther King. Mas isto é um mal globalizado, que provoca divisões e injustiças pelo mundo afora nesta Babel de arrogância.
Não podemos e nem queremos mudar a cor da nossa pele, nem a raiz de costumes e culturas. Mas quando estas coisas criam diferenças presunçosas de tratamento com as pessoas, isto ofende o Criador que ama a todos indistintamente, e estraga a grande missão da igreja. A Bíblia diz com todas as letras: “Meus irmãos, vocês que crêem no nosso Senhor Jesus Cristo, nunca tratem as pessoas de modo diferente por causa da aparência” (Tiago 2.1). O teólogo luterano Gottfried Brakemeier escreve que Deus criou um mundo multiforme, em que cada "peça" tem sua característica inconfundível. Que o propósito de Deus nesta diversidade é a complementação de uns pelos outros e no serviço mútuo, usando cada qual o dom que recebeu. “Discriminação racial equivale a desprezo ao Deus Criador, que moldou a criação assim como a fez, e que por amor a ela deu o seu Filho Unigênito”.
Marcos Schmidt
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS
19 de novembro de 2008
Pastor luterano
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Comunidade São Paulo, Novo Hamburgo, RS
19 de novembro de 2008
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